segunda-feira, 7 de julho de 2008

Vida de saltimbanco


Tenho dificuldade em imaginar as diversas dificuldades, e os seus graus, da vida itinerante; viajar de forma imprevista, sem saber muito bem onde ficar, ter de seguir viagem quando o cansaço pede para parar. Problemas de água, de electricidade…de Internet? Uma família inteira ter de conviver em espaços exíguos, falta de privacidade, de arrumação. Uma família completa a depender da facturação incerta. E a escolaridade das crianças, como é feita?! Logo eu que me preocupo imenso com a qualidade das escolas e professores….E no entanto, eu vi as crianças, várias, em idade escolar, sentadas de forma ordeira, observando sem surpresa nem exclamações imprevistas.

Na plateia pouquíssimas pessoas conhecidas, maioritariamente espectadores vindos das aldeias vizinhas; este circo não é para eles. Eles vão aos circos ricos das cidades, Braga ou Porto. Circos que param aqui são pobres e raros, cada vez mais raros, porque a vida nómada está a ficar cada vez mais difícil. As pessoas exigem qualidade, bons profissionais, boas roupas, animais exóticos…caso contrário ignoram-nos. Eu também já fui uma snob do circo. Porém, as crianças não se importam com nada disso. Elas riram-se das piadas simplíssimas do palhaço, admiraram-se com o mágico, assombraram-se com os equilibristas e exultaram com o Noddy (porque desta vez era uma criança pequena, não um adulto num fato almofadado do Noddy!).

De facto, não era o “Cirque du soleil”, era de muito longe mais modesto, mas ainda assim profissional; a apresentadora era também amestradora de cabras (- das montanhas da Grécia), o ilusionista era também malabarista, a partner do malabarista vendia pipocas no intervalo, a equilibrista vendia brinquedos nas bancadas, o homem da bilheteira era também o técnico de som. Cada um ofereceu o que tinha de melhor, com esmero, com simpatia.

Eles lutam, à maneira deles, contra a corrente. Por isso merecem ser prestigiados, por mim e por qualquer pessoa que goste de cultura. Porque circo é cultura. Cultura popular, mas cultura.
Pense nisso; prestigie o circo com a sua presença, antes que ele desapareça para sempre!

Tenha uma óptima semana!