sábado, 29 de novembro de 2008

Fernanda vai às compras


À mercearia. Aposto que já nem se lembra como é, se é que alguma vez soube. Quando eu era criança havia uma mesmo pertinho da minha casa. Os meus pais tinham lá conta aberta e pagavam no final do mês. Havia de tudo e muitos artigos eram vendidos avulso, o que facilitava a quem pretendia pequenas quantidades, por não precisar de mais, ou para pagar menos. Levávamos saco para trazer as compras. Ali todos os clientes eram tratados pelo nome e os nossos gostos eram conhecidos. Os clientes estavam de um lado do balcão e o Sr. G. do outro. Ele fazia a conta num canto de papel grosseiro, a lápis, que trazia sempre preso na orelha. Naquela época eu achava os supermercados o máximo, quando íamos à cidade. Com mais variedade, mais sofisticados com os seus carrinhos e máquinas registadoras.

Actualmente voltei a fazer compras numa das raras mercearias que sobrevivem a muito custo. Levo o meu saco de pano e várias sacas plásticas para a fruta e vegetais, que reutilizo. Ali o tempo parou; a balança funciona a pesos, a conta é feita manualmente, num papel pardo. Os clientes ainda são tratados pelo nome e as suas preferências conhecidas. As crianças recebem um rebuçado de presente e perguntam-lhes como vai a escola. Ainda encontro ali produtos caseiros, como enchidos, broa de milho e ovos. E por vezes, há fruta e legumes biológicos – vou sussurrar: não calibrados! Imperfeitos; tal como a natureza os fez e sobretudo sabem ao que são. Verdadeiras delícias de sabor autêntico, que me fazem recordar a infância. Por isso vou lá. Apesar de não fazerem promoções, nem darem talões e muito menos aceitarem cartões de crédito. Dá para entender, que ir à mercearia também é bom para o ambiente? Um pouquinho, espero.

Tenha um bom fim de semana!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Recebi uma carta, perdida no tempo.


Veio de Novembro de 1959 e estava na caixa da colecção de selos do meu pai. Ao mexer na caixa pela primeira vez encontrei-a, solitária entre selos. Não era dirigida a mim, mas como foi escrita ao meu pai e ele já cá não está, li-a sem pedir autorização. Ao desdobra-la caiu a cópia da resposta que o meu pai escrevera e lembrei-me de como ele era impecavelmente organizado.
Li as cartas várias vezes, pois algumas letras eram difíceis de decifrar e na cópia do meu pai, dactilografada, a tinta começava a desaparecer. Também porque aquelas informações eram peças de um puzzle que eu julgava ter feito há muitos anos e portanto algo não encaixava.

Não batia certo porque o puzzle que fiz há anos atrás foi construído com suposições e informações exteriores. Estas eram as peças verdadeiras e originais, que vinham mostrar-me um cenário novo e inesperado. Antes destas cartas, eu, sentindo-me Senhora da Verdade, tive uma discussão monumental com alguém que eu julguei mal, em defesa do meu pai. Só me posso desculpar com a raiva, revolta e dor, que a morte do meu pai me causara dias antes. Espero que essa pessoa tenha sido perspicaz e benevolente o suficiente para comigo, para ter compreendido a minha injustiça. Porque agora também é tarde, para nós.

Com a carta dobrada nas mãos, pensei em como nunca somos conhecedores totais das histórias alheias e por conseguinte, corremos um enorme risco ao imiscuir-nos, mesmo com a melhor das intenções. Pior ainda se ninguém nos pediu que o fizéssemos.
Por vezes tenho uma dúvida, uma pergunta que gostaria de fazer ao meu pai. Questões muito particulares, que só ele me poderia responder. Acontece muito frequentemente, como acontecia em vida. E fico sempre com pena. Desta vez, sem perguntar, obtive uma resposta. Irónico, não é? Que uma carta venha através do tempo estilhaçar uma verdade. Ou uma mentira.

Tenha uma óptima semana!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

“Não somos o nosso passado.” Não?!

(Imagem aqui)
Alguém me disse que não somos o nosso passado; queria ela dizer que não devemos julgar as pessoas pelo que fizeram no passado, pois as pessoas podem redimir-se. Mas eu não concordo. Acontece que somos sempre julgados pelo nosso passado e frequentemente até por um passado mais longínquo.

Não me recordo de quantas vezes sorrisos e portas se abriram para mim por ser filha do meu pai. A dignidade daquele homem precedia-me e intercedia por mim. Podia até acontecer que eu não fosse digna disso, mas o meu passado(o meu pai) falava por mim. Agora imaginemos o contrário, eu sendo a mesma pessoa e filha de um homem sem carácter. As portas com certeza fechar-se-iam ainda antes de eu dar provas da minha pessoa. Não seria justo, pois não? Ninguém deveria ser julgado pela sua família.

Eu penso que nós também somos o nosso passado; não por aquilo que os nossos antepassados fizeram, mas por aquilo de que somos responsáveis em nossa vida. É o balanço do negativo e positivo que faz a nossa história. Somos aquilo que somos no presente, graças ao nosso passado. Se houve regeneração, para mim, tem ainda mais valor. Não acredito no ADN, acredito na consciência, na inteligência e força de vontade.

Tenha uma óptima semana!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Quero um Natal feito de energia


No último Natal atingi o auge da minha tolerância a uma celebração materialista, desprovida de todos os seus verdadeiros significados. Mesmo sentindo antecipadamente uma frustração crescente aderi àquilo que os outros preparavam, esperavam de mim e incluí-me.
Logo após o Natal decidi que os outros seriam diferentes. Não quero voltar ao frenesim das compras; não quero uma lista de 30 presentes, a crescer exponencialmente com casamentos e nascimentos. Não quero ver rostos debruçados nas marcas dos presentes e a contabilizar o seu valor. Não quero que a celebração do advento gire em torno do momento em que se recebem presentes. Não quero uma troca comercial; porque é isso mesmo, não é? Se não queremos que seja, não nos faltam alternativas:
Nos Samaritanos, por exemplo. Ou no Oneheartchannel, que reúne uma centena de associações internacionais.

Este ano celebraremos o Natal cá em casa. Na festa que eu desejo, a decoração vai ser feita por mim e pelas crianças. Ontem começamos com os postais de Natal, como já é tradição. As crianças receberão presentes, com certeza, porém o verdadeiro momento de dádiva deverá ser na oração conjunta de agradecimento.
Eu quero um Natal com mais amor no coração e menos comida na mesa. Eu quero menos papel de embrulho pelo chão e mais energia positiva no ar. Eu quero um Natal em que o nascimento do Salvador seja festejado naquele dia e que se faça recordar no resto do ano.

Identifica-se com as minhas frustrações? Deseja realmente fazer algo diferente, como por exemplo, fazer os próprios presentes, ou a decoração, saiba que há solução; visite os blogues de decoração que tenho linkados. Vai descobrir pequenas maravilhas de simplicidade e beleza. Que fazem toda a diferença!
Comece desde já a preparar um Natal especial:).

Tenha uma óptima semana!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Chá e scones


Os dias têm estado frios e chuvosos, convidativos ao chá das cinco, ao qual os scones não podem faltar. Fiz estes dias e desta vez fui a tempo de fotografar, antes que os scones fossem devorados pelas crianças, que os adoram!
Estava a pensar neste texto e ocorreu-me que depois do controverso Halloween este post até poderia parecer provocatório; scones (Made in England) estão a perceber?! Mas eis que se fez luz e o chá surgiu-me como elemento conciliatório. Ah, pois, porque talvez vocês não saibam mas quem levou o hábito do chá para a corte Inglesa foi uma princesa portuguesa!
Catarina de Bragança era filha de D. Luísa de Gusmão e do futuro rei D. João IV (1604-1656), o rei da Restauração. Casou com Carlos II de Inglaterra em 1662. “A rainha Catarina terá ensinado a preparar o chá e a bebê-lo acompanhado de bolos. E passou a ser preparado em bules de porcelana. Pensa-se que a princesa portuguesa, ou alguma dama da sua comitiva, terá levado para a corte inglesa a receita do doce de laranja, preparado na zona de Vila Viçosa, onde este fruto abunda. A verdade é que o termo «marmalade» é a palavra portuguesa «marmelada», que é confeccionada com marmelo, fruto que não era conhecido em Inglaterra. A «marmalade» inglesa é doce de laranja. Ainda hoje, nas camadas populares de certas regiões da Grã-bretanha se diz «tchá», como em Liverpool.”(Fonte aqui)

Bem, vocês estão a imaginar o que na corte inglesa, tão cheia de si própria, terão dito a respeito desta “moda”?
Estrangeirice? Tradição alheia? Cultura importada? O certo é que o hábito foi instituído e vejam só: nós contribuímos com o chá, os ingleses com os scones, e não é que o resultado foi um sucesso?!

Hazel, a receita dos scones (garantidamente fofos) é esta:
9 Colheres de sopa de farinha (com fermento)
2 C.S. de açúcar
2 C.S. manteiga derretida
Meia chávena de leite
2 Ovos
1 Pitada de sal
Misturar tudo muito bem, verter em formas untadas e enfarinhadas. Vão ao forno pré-aquecido, durante uns 15 minutos (conforme o forno, logo que estejam altos e com cor). Servir com manteiga, compota e claro, chá quentinho.
E obrigada pela tua paciência:)!

Tenha uma óptima semana!