segunda-feira, 19 de abril de 2010

A profissão não nos define!


Ainda na sequência da minha entrevista, algumas mães têm falado comigo a respeito de se intitularem “mãe a tempo inteiro” e de como isso é socialmente mal visto. Algumas, felizes e realizadas, com a situação delas, sofrem ainda assim por não serem compreendidas e pelo contrário, serem mal cotadas.

Existe a ideia estereotipada destas mulheres (nós), como sendo um grupo sem instrução, desinformado, sem capacidade para exercer uma profissão mais interessante e por isso mesmo confinado a esta actividade. Ou seja: falta de alternativa.

Eu faço a diferenciação entre doméstica, ou dona-de-casa, com “mãe a tempo inteiro”; esta última, tomou a decisão de ficar em casa para cuidar e educar os filhos. Para se dedicar integralmente à família. Se os filhos não existissem, ela (eu) estaria lá fora, no mercado de trabalho. Aliás, os franceses fazem a distinção entre femme au foyer (mulher no lar) e mère au foyer (mãe no lar), que me parece muito mais exacta.

Contudo, não pretendo diminuir o valor das donas de casa, que para mim são (somos) sem dúvida uma espécie de gestoras; responsáveis pelo economato (despensa), fazem as compras, elaboram menus e executam-nos, tratam da manutenção e reparação de tudo no lar, fazem a contabilidade e certificam-se que o orçamento familiar cobre todas as despesas mensais. Enfim, gerem uma microempresa, geralmente com muito sucesso, considerando a actual crise, e eventual redução dos vencimentos, com o desemprego. As donas de casa não permitem idas à falência, porque os envolvidos não são meros funcionários, mas aqueles que mais amam. Por conseguinte, não me venham dizer, que esta, é uma função sem desafios!

Parece-me que há uma sobrevalorização do “emprego” pelos motivos errados; claro que eu também penso que o trabalho dignifica e necessitamos dele para subsistir. Não pretendo desvaloriza-lo, falo de uma sobrevalorização a outro nível. É como se as pessoas necessitassem do “emprego” para as definir. Ora, na minha concepção o trabalho não define ninguém!

Conheço pessoas com trabalhos fascinantes, bem sucedidas financeiramente, socialmente bem vistas e no entanto, quando se mantém uma conversa com elas, constatamos quão vazias são, desprovidas de interesse. Um curso superior não fornece “cultura geral” nem “saber estar”; unicamente nos prepara e especializa para trabalharmos numa determinada área.
Quando temos uma vida interior rica e plena, não há uma tão grande necessidade dessa "muleta" exterior que é o trabalho, para nos definirmos.

Na realidade, as pessoas são como caixinhas de surpresas; e a melhor surpresa pode vir da caixinha menos promissora. Para não perdermos estas “caixinhas” só temos que ficar atentos e pormos de lado ideias preconcebidas.

Tenha uma óptima semana!