segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O valor do dinheiro

Tenho notado que é assunto tabu entre pais e filhos; como se de alguma forma os pais tivessem somente que ganhar o dinheiro e o esforço para isso fosse de somenos importância. E parece-me errado, pois com isso os pais estão a descurar a educação financeira dos seus educandos.

Conheço casos de pais que ganham o ordenado mínimo, ou pouco mais, e ainda assim compram PSP’s, sapatilhas de marcas e telemóveis de última geração aos filhos, gastando quantias, que comportam um esforço financeiro para a família, muito pouco razoável.

Muitas vezes, estes pais trabalham horas extras, acumulam um segundo emprego, para poderem proporcionar aos filhos estes aparelhos e roupas de marca, abstendo-se de despenderem qualquer quantia com eles próprios.

Os filhos querem e pedem, e os pais concedem porque…por variadíssimas razões; querem proporcionar tudo o que não tiveram aos filhos. Desejam agradar-lhes. Não querem que os filhos se sintam inferiorizados, perante os amigos. E querem mostrar que podem.

Acontece que muitas vezes não podem. E outros pais podem. No entanto, uns e outros têm em comum uma queixa; reclamam que os filhos têm tudo, sem esforço, porém não valorizam nada, e nada agradecem.

E isto acontece porquê? Devido ao tabu do tema “dinheiro”. Tanto aqueles pais que fazem sacrifícios enormes, para poderem proporcionar aos filhos o que eles precisam, e desejam, como aqueles pais que auferem rendimentos mais elevados e o fazem sem sacrifícios, devem enfatizar o valor do dinheiro, sempre que algo é comprado.

Seja porque o pai trabalhou na fábrica durante 15 dias, para poder pagar o telemóvel, seja porque o pai é advogado e fez serões no escritório, abdicando de tempo em família e repouso, há um esforço de trabalho que deve ser valorizado e expresso verbalmente, aos filhos.

Quando o meu filho se põe a dar pontapés em pedras, eu chamo-lhe a atenção, dizendo para não estragar as sapatilhas, que foram caras por serem de boa qualidade, e que só deixará de as calçar quando já não lhe servirem. Não por as ter estragado propositadamente. Relembro-lhe que o pai se levanta cedo e trabalha até tarde, para ele poder ter calçado confortável, entre outras coisas. E que deve respeitar esse esforço do pai.

Há dias, passando em frente a um café com uma publicidade a uma bebida de sumo gasosa, a Letícia pediu-me que lha comprasse. Eu respondi que em vez disso, quando chegássemos a casa lhe faria um sumo de laranja natural; que o preço da gasosa no Café daria para fazer vários sumos naturais, muito mais saudáveis. Ela aceitou de boa-vontade e deliciou-se com um sumo e duas torradas, ao lanche.

Contrariamente ao que possa imaginar, toda esta conversa não é vã; algo fica a ecoar, nem que seja no inconsciente dos nossos filhos. E aos poucos eles vão interiorizando, que tudo aquilo que se “compra”, implica uma troca: dinheiro por um bem, dinheiro esse, também ele uma troca, no qual os pais entregaram trabalho, tempo das suas vidas e por vezes muito esforço.

Isto também é amar; ensinar os filhos a valorizar o dinheiro e a mostrarem-se gratos aos pais, por lhes proporcionarem o que precisam e desejam.

Até breve!