segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Apologia ao Choro

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Custou-me muito tempo a entender que chorar faz bem, que não é sinal de fraqueza nem tem mal nenhum. Eu sentia o choro como uma catárse, mas também sempre entendi que deveria ser privado.Cheguei a sentir-me escandalizada com algumas cenas de choro que presenciei, achando que nunca deveriam ter acontecido em presença de terceiros.

Que as lágrimas assomassem aos olhos era o limite da partilha do meu choro. Mas então, aconteceu algo na minha vida que deu um poder maior às lágrimas e elas tornaram-se praticamente autónomas. Eu perdi o controle, elas ganhavam sempre. A única coisa que eu poderia fazer para as reter, era evitar "o assunto". Porém, frequentemente, nem sobre isso eu tinha controle. Também fui compreendendo que não temos o controle sobre praticamente coisa alguma.

Que a minha filha fosse uma criança de lágrima fácil foi decisivo para que eu revisse a minha opinião sobre o choro. O choro das crianças flui mais facilmente, e a razão que o causa, desaparece também mais facilmente. Mas nós, adultos, persistimos em passar-lhes os mesmos conceitos negativos sobre o choro que nos foram  transmitidos a nós. Tentamos recalcá-lo, desapreciá-lo, em lugar de o entendermos e aceitá-lo, como uma parte de nós.

O choro não é fútil, ele só surge quando necessário; chora quem está em sofrimento, se o motivo é grave ou não merece lágrimas, não é critério de quem julga, apenas de quem sente.

O choro não é inútil, tem a utilidade de uma panaceia natural, possibilita o desabafo sem sequer que uma palavra seja expressa ou explicada.

O choro não atesta a fraqueza de carácter, apenas mostra o limite da força desse carácter, o quanto aguentou para chegar ao momento dessas lágrimas.

O choro é uma forma de comunicação, de facto, é a nossa primeira forma de comunicarmos, quando nascemos.

O choro é a prova de que não temos os corações empedernidos, pelo contrário, somos sensíveis ao ponto de nos emocionarmos e exprimirmos essa emoção.

Por vezes o choro comunica um pedido de ajuda, e pode ser um bebé que não tem outra forma de o fazer, ou alguém que não o consegue exprimir por palavras. Outras vezes é apenas a partilha do sofrimento. 

Recentemente, ao ler A Vida de Pi, passei a acrescentar mais uma virtude ao choro: foram as lágrimas que Pi derramou que lhe recuperaram a visão. Não interessa que seja ficção, porque na realidade as lágrimas lubrificam os olhos, removem irritações, pois contêm anticorpos.

Há quem chore muito e quem nunca chore. Há quem chore muitas vezes e quem chora pouco. Há quem procura a solidão para chorar e quem não consegue evitar o choro em qualquer circunstância. Contudo, não há quem nunca tenha chorado na vida.

Chorar faz bem ao corpo e à alma e ninguém deveria ser reprimido por faze-lo. Pelo contrário, deveríamos tranquilamente, apenas dizer: - Chora, que te faz bem.

Tenha uma óptima semana!


P.S. Aconselho muito a leitura deste texto.