terça-feira, 15 de março de 2016

A mãe alemã

"É verdade o que se diz, que as crianças alemãs são mais independentes e responsabilizadas, sim. Desde a primeira classe que vão sozinhas para a escola. Quatro semanas antes da escola começar, há avisos na televisão e nos jornais como ensinar as crianças a andarem sozinhas na rua, mesmo nas cidades. Há uma rede de escolas públicas muito grande, por isso a grande maioria das crianças vive perto da sua escola, mas as que vivem longe vão de autocarro sozinhas. Nunca temos a sensação de que estão em perigo, porque existem os vizinhos. Portanto, elas movem-se sempre em comunidade. E, por exemplo, se os pais estão num restaurante, as crianças entretém-se a brincar lá fora e os pais não estão constantemente a olhar para o que estão a fazer ou se está a chover ou se têm o casaco vestido...
Na Alemanha o ensino é consistente. As coisas não estão sempre a mudar e não se tenta ensinar-lhes tudo desde bebés. As coisas são aprendidas se calhar mais devagar mas de maneira mais sólida. Fica tudo na cabeça. As aulas acabam ao meio dia e as crianças têm tempo para fazer os T.P.C's sozinhas. 
Quanto à ideia de que as mães alemãs são organizadas, também é verdade. Somos mesmo. Ensinamos as crianças a respeitar o espaço e o tempo dos outros, a cumprir regras. Têm de ser pontuais. Não toleramos atrasos porque é uma falta de respeito. Deixar o carro mal estacionado ou passar com um sinal vermelho, porque não há ninguém, são "exemplos" que não damos aos filhos. Também é muito importante que tenham as suas coisas arrumadas e organizadas. 
Uma coisa engraçada: gostamos muito de rituais. Na Páscoa, cozemos e pintamos ovos, fazemos bolos em forma de coelhos, construímos ninhos. O Natal é uma enorme festa, toda a família se junta para fazer bolachas. 
Mas em geral, a responsabilidade individual e o respeito para com os outros são as bases da educação alemã. "

Sabine Halbich, uma filha de 8 anos, in revista Activa, Maio, 2015

Este testemunho é demasiado perfeito para ser real? Pois... mas é de facto muito comum. Reconheci na descrição as várias famílias alemãs que conheço bem, e de quem sou amiga. 
Será uma questão de natureza, somos latinos e isso reflecte-se profundamente na forma como vivemos, e nosso modus operandi. A "paranóia" da segurança é uma dessas características. Não significa que na Alemanha não existam casos de crianças raptadas; ainda em Julho do ano passado, vimos por toda a parte, em Berlim, fotos de um menino de 7 anos que tinha desaparecido dias antes. 
Por outro lado, a relação entre pais e filhos alemães também se reflecte deste tipo de educação tão "eficiente"; são mais distantes e não demonstram tanto o afecto como os portugueses fazem. 
Não, a educação perfeita não é propriedade de nenhuma nação.