segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Sophia - Um robot com cidadania



Esta é Sophia, o primeiro robô a receber cidadania (honorária, pela Arábia Saudita). Impressiona a sua capacidade de resposta, seja pela assertividade, seja pela evasão, e impressiona pelo seu aspecto sinistro, sobretudo na expressão de emoções que imitam as humanas. Porém, não tenho dúvidas que os cientistas rapidamente a tornarão mais agradável ao olhar, destruindo a suspeita que os humanos sentem, ao observá-la. Dar-lhe-ão um aspecto adorável, que cativará os mais incautos. E certamente, a irão apetrechar com tudo o que possa parecer útil, e ser realmente útil, ao comum dos mortais.

Apesar dos avisos, alarmantes, contra a Inteligência Artificial por muitos cientistas, incluindo Stephen Hawking, a marcha para o desenvolvimento e expansão da A.I. continua. Esta é apenas uma boneca, que dá rosto a um perigo, pretendendo exactamente parecer o contrário. É óbvio, no entanto, que tendo um país atribuído cidadania ao robô, a humanização destas máquinas acaba de se consagrar.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

"Alegria Hygge" - Dica de leitura

Via Wook

Segundo o relatório anual da Onu os dinamarqueses são o povo mais feliz do mundo. À partida, atribuiria-se este estado ao nível de vida que este povo tem, todavia parece que o requisito é outro. O "segredo" tem sido desvendado no último par de anos, e amplamente divulgado; afinal parece tão possível para qualquer um de nós, atingir essa espécie de Nirvana! Tudo se resume ao Hygge*.
Pronuncia-se "hu-gah", e significa aconchego, a arte de criar uma sensação de conforto, tranquilidade e bem-estar, valorizando cada momento, rodeados por tudo e todos, os que amamos. 

Este livro sistematiza tudo aquilo que se conjuga para nos proporcionar este sentimento de hygge, desde o vestuário, à alimentação, passando pela decoração e vida social. Coisas tão simples como beber um chá, aconchegar-se numa mantinha a ler um livro, convidar amigos para petiscar ao fim-de-semana, acender velas, oferecer presentes feitos por nós, escrever num bloco pensamentos e poemas, etc. O Outono e Inverno são por excelência as estações adequadas às práticas indicadas pelo hygge, é portanto uma leitura muito a propósito.

"Se tem filhos, dê-lhes espaço para reflectir e explorar a sua criatividade. Brincar é essencial no desenvolvimento de qualquer pessoa, por isso estimule os seus filhos a encontrar a sua própria forma de brincar. Não afogue o tempo das crianças em actividades porque, na realidade, elas são incapazes de processar e gerir tanta informação. Hoje, mais do que nunca, é necessário que as crianças cresçam num ambiente tranquilo, num ambiente hygge."

Título: Alegria Hygge
Autora: Pia Edberg
Nr de Páginas: 139
Editora: Versão de Kapa 

* Mais dicas aqui.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Apologia à ruralidade ( ≠ urbanidade)

Urbanidade: (latim urbanitas, -atis)
substantivo feminino
1. Qualidade do que é urbano.RURALIDADE
2. Vida de cidade.
3. [Figurado]  Cumprimento das regras de boa educação e de respeito no relacionamento entre cidadãos. = AFABILIDADE, CIVILIDADE, CORTESIADESCORTESIA, INDELICADEZA

Notei que nos últimos meses, se apropriaram-se os políticos da palavra "urbanidade"; algum a usou e lançou tendência. Usam-na para caracterizar o civismo de alguém, e o Priberam confirma.
Mas a mim não agrada, pois se "urbanidade" tem tudo isso de bom, "ruralidade" há-de ter o contrário em mau: falta de cumprimento de regras, má-educação, indelicadeza, enfim, toda uma versão vilã. 
Não me agrada porque não é justo nem correcto; na ruralidade há franqueza, frontalidade e outros valores que nascem e proliferam naturalmente, é certo, sem os refinamentos da "urbanidade". Não implicando isso, que não exista respeito e educação e sobretudo, honestidade. 
A vida no campo tem um cenário natural, e as suas pessoas habituaram-se a ver a vida dessa forma, tal qual ela é. Sem camuflar o que tem de menos bom, zangam-se quando o entendem, mas fazem-no com sinceridade, não é teatro para inglês ver. E quando está tudo bem, está mesmo, a boa cara não é circunstancial. 
O campo é o berço de tudo, e de todos; mas alguns foram para a cidade, e esqueceram de onde vieram, ou apenas se lembram, ocasionalmente, envergonhados. Parece-me que essa atitude, é que é de facto a própria definição de "urbanidade"
 

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Tarte de Amêndoa e Framboesa


O aspecto desta tarte na fotografia da revista, convenceu-me mais do que saber que era receita do José Avilez. E também por ser de amêndoa, que apreciamos muito. Porém, fiquei um pouco decepcionada quando verti o recheio para a tarteira, vi imediatamente que não teria a altura e textura da original. Verdade seja dita, fiz alterações a meu bel-prazer, ou melhor dizendo, segundo o que me convinha; substituí a farinha da amêndoa, que não tinha, por amêndoa ralada, e não fiz a base da tarte, optando pela massa folhada, por ser prático e porque gostarmos.
Explicará certamente a diferença, contudo o sabor é óptimo e a tarte foi um sucesso.

Tarte de amêndoa e framboesa
Ingredientes:
100 gr de manteiga
100 gr de açúcar
100 gr de farinha de amêndoa
1 ovo grande
50 gr de framboesas frescas

Como fazer:
Forrar a tarteira com a massa folhada. Derreter a manteiga em banho-Maria, acrescente o açúcar, o açúcar, a farinha de amêndoa e por fim o ovo.  Colocar este creme na base da tarteira, dispor as framboesas, e levar ao forno, pré-aquecido a 170º, cerca de 45 minutos. 

Revista do Expresso, 28/05/2016

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Castigar não faz sentido

"Educar é muito mais simples a partir do momento que se percebe como funciona o cérebro de uma criança. Este precisa de equilibrio entre amor e regras, entre proteger e deixar que uma criança seja independente. 
... O limite põe-se  antes que a criança se porte mal. Prevenir é melhor do que corrigir. O difícil na questão dos limites é saber como pô-los e estar atento ao comportamento da criança para o prevenir."

 Neuropsicólogo Álvaro Bilbao, autor do livro "No cérebro das crianças explicado aos pais", in entrevista Revista Expresso, 28/05/2017

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Ingratidão

Via
O dia amanheceu triste. A origem do cinzento espesso do céu e o odor a queimado não é local. Não é apenas dos fogos que desde a semana passada rodeiam os montes do meu Vale. Pertencem a todo o pais; ontem à noite 300 fogos, hoje diz-se que depois da meia noite aumentaram, passando dos 500. Há novamente vítimas mortais. Há casas queimadas e gente deslocada. Há o Pinhal de Leiria, do nosso D.Diniz, em perigo. Há criaturinhas da natureza incineradas. A Natureza devastada. 

Já ninguém acreditará que os fogos não são senão de origem criminosa. Que limpar as matas não é argumento de peso, nem que os eucaliptos são os grandes responsáveis, por serem altamente inflamáveis. 
O grande culpado é o Homem. Com a sua maldade, ambição desmedida e falta de amor pelo próximo e pelo planeta. É triste, e incompreensível, que de todas as criaturas que habitam a Terra, é a nossa a que mais proveito dela retira, e que mais prejuízo lhe causa. E ainda assim ela nos abençoa, novamente, com a chuva que se torna a nossa derradeira esperança.  

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Perguntas dos filhos que nos fazem pensar

via
- O que é a Filosofia? 
Agora que já sabe, atormenta-me perguntando-me continuamente para que serve. E por mais que lhe explique que serve para nos fazer reflectir, para debater as grandes questões e dar orientação ao Homem, conclui sempre o mesmo: -E para que tenho eu de saber sobre quem existiu há mais de 2000 anos? 
Responder-lhe que a Filosofia tem um fio condutor, que é preciso seguir para chegar à actualidade, que tudo o que está a estudar é Cultura, e necessário para se tornar em alguém interessante e culto, é inútil; responde-me com a incompreensão própria de uma geração que encontra toda a informação à la carte, num piscar de olhos, na Internet. E ainda por cima, feita de forma muito mais apelativa, com desenhos e gráficos, com música e sentido de humor.

Parece-me, e receio realmente, que as disciplinas clássicas têm mesmo os dias contados.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Mulheres que não querem ter filhos




Àquela frase: "-Vais-te arrepender de não teres tido filhos", respondem silenciosamente muitas mulheres "estou arrependida de ter sido mãe". Não o podem dizer em alta voz, pois a sociedade condena estas mães que se renegam, não compreendendo a rejeição daquilo que lhes deveria ser natural. Pois bem, não é natural para todas as mulheres ter filhos. Não é papel que todas desejem desempenhar. Não é capacidade que tenham, nem vontade de realização. Muitas, apenas consentem obrigadas pela pressão familiar e social.

Mulheres que não querem ter filhos, não têm implicitamente qualquer problema; não são automaticamente estéreis, não estão deprimidas, não tiveram necessariamente traumas na infância, não precisam de terapia, nem detestam crianças. Não são egoístas, nem menos femininas por isso. Já escrevi aqui uma vez, que talvez as mulheres que escolhem não ter filhos sejam as mulheres mais lúcidas de todas. Porque convenhamos, a maternidade não é profissão, nem passatempo, é missão de vida; a responsabilidade de criar um ser, tentando fazer dele alguém saudável, equilibrado e feliz, é uma super tarefa. E ninguém sabe exactamente como se consegue isso. No entanto, ninguém se cobra mais pela suas falhas do que uma mãe. Ninguém é tão implacável consigo própria. Pois, mais uma vez, a sociedade atribui à mãe, a responsabilidade da educação dos filhos, muito mais a ela do que aos pais. 

Nenhuma mulher deveria sentir-se obrigada a gerar um filho; não é um desígnio comum a todas nós, e está tudo bem! Quem não resiste e cede, apenas troca de "prisão", liberta-se da pressão social para se acorrentar a outra maior, mais presente e para sempre. Com o bónus dual de amar e renegar, então sim, certamente se aproximarão da doença, conflito interior e depressão. Nenhuma mulher tem obrigatoriamente que ser mãe. E ninguém tem nada com isso. 

"Estou muito arrependida de ser mãe", Sábado

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Dica de leitura: Mulheres que correm com os lobos

 
Via

Quando entrei na blogosfera, vai fazer brevemente onze anos, encontrei o blogue de uma brasileira que tinha este nome: Mulheres que correm com os lobos. Numa barra lateral ela fazia alusão ao livro, porém eu nunca tive curiosidade de o desvendar. Gostava dos textos dela, que eram diferentes de tudo o que se lia nos outros blogues, porém, apenas agora, depois de ter lido o livro entendo como tudo estava relacionado. As coisas proporcionam-se quando estamos preparadas para elas.
Demorei cerca de um ano a ler Mulheres que correm com os lobos. Fui intercalando outros livros, e outras leituras, fazendo pausas necessárias, o que para mim é algo invulgar; é que este livro é demasiadamente profundo para ser lido de rajada, é como uma bebida forte que se bebe aos goles, apreciando cada trago, e tentando entender que efeito tem em nós a sua absorção. 

Clarissa Pinkola Estés, psicóloga junguina, poetisa e contista, parte de uma série de contos recolhidos por ela, na sua família e por todos os locais e países por onde viajou, para descodificar os processos psíquicos que nos orientam ou dominam. Os contos que todos conhecemos não são apenas historinhas de amor ou maldade, escondem sentidos profundos que revelam a natureza humana, as capacidades que temos, ainda que adormecidas, num desvendar maravilhoso do intra-mundo que possuímos sem sequer saber, e que contudo, nos governa. 
Por exemplo, no conto "A mulher esqueleto"; um pescador pesca um esqueleto do qual não se consegue libertar, acaba por acarinhá-lo e viver com ele uma história de amor, assim lhe dando a vida. Para a autora, a história relaciona-se com os ciclos da vida-morte-vida, que se vive num relacionamento; as relações são ciclos de animação, desenvolvimento, declínio e morte. Não significa que a morte seja ruptura definitiva, pode ser apenas ruptura com aquilo que foi, que existia antes, passando a ser de outra forma. Ou pode simplesmente ser, de facto, ruptura definitiva de relacionamento. Se aceitamos entrar neste jogo ( o de ter um relacionamento), devemos estar preparadas para as suas fases naturais, vida-morte-vida, e saber aceitá-las. Esta é uma tecla em que a autora constantemente bate, e muito sinceramente, para mim faz todo o sentido.

Partindo da comparação com os lobos, Clarissa Pinkola Estés defende que as mulheres possuem semelhantes características, como o sentido apurado, espírito divertido e elevada capacidade de afeição. "Lobos e mulheres são seres relacionais por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e energia. São fortemente intuitivos, profundamente preocupados com as crias, com os companheiros e a família". Porém, tal como os lobos foram obrigados e afastar-se cada vez mais longinquamente, e embrenharem-se em esconderijos isolados para não serem extintos, também a mulher tem sido vítima, há séculos, do aniquilamento da sua natureza instintiva feminina para sobreviver. O que Clarissa Pinkola Estés propõe é precisamente restaurar a vitalidade das mulheres, recuperando os dons femininos adormecidos, pela desvalorização e rejeição da cultura patriarcal. Por tudo isto e muito para além disto, Mulheres que correm com os lobos tem sido uma obra aclamada pelo movimento feminista e referência no que respeita o resgate do sagrado feminino.
Maya Angelou sintetiza todo o meu artigo perfeitamente em duas frase:

" Esta obra mostra à leitora o quão glorioso é ser-se audaz, ser-se bondosa, ser-se mulher. Todas as mulheres deverão ler este livro."

Título: Mulheres que correm com os lobos
Autora: Clarissa Pinkola Estés
Edotora: Marcador
Número de pág. 608